Não  parece existir dúvida de que o governo Dilma deixou de ser efetivo  após o advento das delações premiadas no ano de 2015.

O advento da violenta crise econômica como consequência do novo modelo de gestão da economia  inaugurada no contexto do primeiro governo Dilma acabou por comprometer agudamente   a credibilidade do governo perante a sociedade.

Efetivamente o governo Dilma, entre 2011 e 2014, assumiu um perfil mais arrojado nos gastos sociais e, de fato, tratou o superavit primário, as despesas públicas, e o controle inflacionário   com preocupação secundária em relação ao equilíbrio fiscal e orçamentário. É bom ressaltar que o modelo  de Lula na condução da economia,  baseado no equilíbrio fiscal, ainda produziu efeitos nos primeiros  2 anos do governo Dilma.

É a combinação de aguda crise econômica com avanço das investigações da operação Lava Jato que acabou por cindir a base do governo na Câmara do Deputados, produzindo uma violenta crise política traduzida na paralisia congressual que vem se mantendo e se aprofundando.

Hoje podemos constatar que o governo Dilma já não consegue aprovar  as necessárias e antipopulares medidas de controle dos gastos públicos capazes de fazer frente ao descontrole inflacionário e a frear a recessão  econômica em curso.

Do ponto de vista político o jogo  entre  governo e oposição  é absolutamente normal dentro da disputa em curso. Qualquer oposição seja de esquerda, centro ou direita buscaria fustigar ao máximo o governo num contexto de aguda crise econômica e política. O mesmo que a oposição faz hoje com Dilma, em 1992 a oposição também agiu assim frente ao governo Collor, tanto no congresso como na sociedade.

Mas, se é verdade que o governo Dilma é contestado por setores significativos de sua base  aliada e pela oposição, devido às medidas impopulares propostas para fazer frente ao desequilíbrio dos gastos públicos, também é verdade que estas políticas impopulares são a imagem mais acabada das políticas tucanas quando governou o Brasil entre 1994 e 2002, não apenas em tempos de crise, mas como um padrão de conduta em todos os 8 anos do governo FHC. Afinal, criar gastos sociais é correr riscos em relação ao equilibrio fiscal num mundo econômico volátil.

Os governos tucanos, no contexto do presidencialismo de coalizão brasileiro comportaram-se como governo de centro-direita, enquanto os governos petistas se comportaram como governo de centro-esquerda. Os governo tucanos foram muitos ciosos no controle dos gastos sociais, pecando pelo exagero. Já os governo do PT, especialmente o governo Dilma foi muito cioso em produzir gastos sociais e demonstrou pouca responsabilidade fiscal. Eu diria que o governo Lula conseguiu articular com sucesso, gastos sociais e  responsabilidade com o equilíbrio fiscal, num contexto de boom econômico interno e externo.

Os governos tucanos não colocaram como centro de sua política o enfrentamento efetivo das desigualdades sociais. Os governos do PT, especialmente os governos Lula, colocaram no centro da agenda governamental o enfrentamento das desigualdades sociais. Efetivamente, pela primeira vez a parcela mais pobre da população sentiu-se contemplada pelas políticas inclusivas do governo federal.

Neste momento de grande impopularidade do governo Dilma  a maioria da população brasileira pede a saída da presidente da  república. Na verdade, somado às crises econômica e política,  convivemos com o PT em sua quarta gestão presidencial.  Parece que  a roda da alternância democrática  está se movimentando e  potencializando em grande parte o desejo de mudança, já expresso em 49% nas eleições de 2014 e chegando a 65% nos dias de hoje.

Acontece que passada a crise política, seja pelo impeachment de Dilma, seja pela sobrevivência  vegetativa do atual governo, parece clara a tendência de mudança do governo em direção â oposição de centro direita. A questão que se apresentará então é: a centro direita enfrentará a agenda pública central do Brasil, que é o enfrentamento da pobreza e da desigualdade social? creio que não, deverão advir políticas que coloquem a agenda da recaptura do Estado por políticas distributivistas em direção  às classes médias e superiores em  oposição à agenda da desigualdade social.

Este parece ser o cenário que advirá após o fim dos governos petistas. As classes subalternas deverão reagir intensamente à quebra de direitos sociais experimentados nos últimos 14 anos. Poderá acontecer  um cisão profunda  entre governo e população mais pobre. Em síntese, o que quero  dizer é que o povão deverá sentir muitas saudade dos  governos do PT....caso emerja este cenário,  estará sendo gerada  incertezas  para uma hegemonia à direita, por mais de um governo,  na sociedade brasileira.

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