De acordo com metodologia estatística reconhecida internacionalmente quando uma pesquisa quantitativa é feita obedecendo todos os pressupostos teóricos, a chance de que a amostragem represente fielmente o universo pesquisado, dentro da margem de erro prevista é de  95%. Ou seja, se esta pesquisa for repetida cem vezes ela repetirá os mesmos resultados em 95 vezes, porém, sempre haverá erros em 5%, ou em 5 vezes, ela alcançará resultados fora da margem de erro.

Normalmente uma pesquisa bem executada percorre as seguintes fases:

1-É determinado o objetivo da pesquisa, por exemplo verificar a intenção de votos e rejeição para uma eleição, digamos, municipal.

2-O pesquisador elabora um questionário que busque captar as intenções dos entrevistados, sem tentar induzir respostas.

3-Então será feito um pré-teste, ou seja, o questionário é submetido a 5% do entrevistado a ser pesquisado para verificar se as perguntas são claramente entendidas pelo entrevistado.

4-Faz-se as correções devidas no questionário, se for o caso.

5-Estabelece-se a amostragem com base na margem de erro desejado, normalmente variando de 2 a 5%, dependendo dos objetivos da pesquisa. Em período de vésperas de eleições, a margem de erro deve ser de 2%. Mas torna a pesquisa mais cara.

6-A partir daí passa-se à fase de laboratório propriamente dita. Constrói-se os discos indutores de respostas estimuladas, tanto para a intenção de voto como para obter as rejeições dos candidatos.

7-Estabelece-se a amostragem, aplica-se a estratificação dos eleitores segundo o IBGE e planeja a coleta dos dados de campos, obedecendo rígida distribuição demográfica, segundo o princípio de que quanto mais for aleatória a coleta de dados, ou seja, mais espalhada possível, mais chance tem a amostragem de representar o conjunto das opiniões do universo a ser pesquisado.

8-Com base no questionário, constrói-se a máscara de entrada no SPSS. Trata-se de uma codificação computacional que fará com que o programa de computador transforme as respostas em numerais com o objetivo de quantificar percentualmente as respostas e realizar os cruzamentos entre variáveis.

9-Treina-se o pessoal encarregado de coletar os dados de campo.

10-Após a coleta, uma equipe de checagem entrará em ação, ou seja, 20% dos entrevistados deverão ser contatados, com  o objetivo de  verificar a veracidade das informações, para escapar de eventuais fraudes.

11-Executado a fase de checagem entra em ação uma nova equipe. Agora todas as informações serão cuidadosamente digitados no SPSS.

12-Um checador verificará se a digitação coincide com os dados de campo. Qualquer erro na digitação pode comprometer os resultados da pesquisa.

13-Executado e checado a digitação, então os dados  são tabulados e cruzados entre sí, sendo  feito as tabelas e gráficos necessários para a exposição dos dados de pesquisa.

14-Agora entra em campo o responsável pelo parecer   técnico sobre os resultados da pesquisa a ser apresentado ao cliente. Normalmente este pessoal é o cientista político, que é capaz de unir teoria e empiria na exposição dos dados da pesquisa.

Caso seja do interesse do cliente, este cientista poderá emitir um parecer sobre as estratégias a serem seguidas pelo cliente. Esta é a parte mais cara da pesquisa....o uso do cérebro estratégico do cientista. Lógico, aquele que tem Know how na área eleitoral.

 

Recentemente, nas eleições de 2014, meu instituto cometeu um erro na predição do segundo turno das eleições estaduais. Nosso instituto,  em 74 pesquisas anteriores, tinha acertado todos os resultados. No primeiro turno das eleições de 2014, foi o único instituto a acertar todos os números. Mas no segundo turno, erramos na predição por uma diferença de mais de 10%.

Do ponto de vista técnico os erros podem ocorrer, afinal, cada pesquisa só possui margem de segurança de 95%. Creio que, desafortunadamente caímos fora da margem de erro. Mas aconteceu pela primeira vez em nossa trajetória de pesquisas. Nesta mesma eleição de 2014, o IBOPE também caiu fora da margem de erro, em torno de 10% também, nas eleição para o governo da Bahia.

Nos meses de janeiro e fevereiro instalei uma auditoria interna para buscar saber onde erramos e porque erramos. Afinal, esta era uma auditoria fundamental que deveríamos fazer para minimizar erros posteriores. Com a coordenação e execução de pessoal da UFPA, na verdade oito pessoas que trabalharam nesta auditoria durante quase dois meses, cheguei as seguintes conclusões:

1-Após ligarmos para mil entrevistados conseguimos manter contato com apenas 500. Outros 500 não foram localizados.

2-Em Belém, notamos que houve um enviesamento da pesquisa, onde centrou-se a coleta de dados mais nas periferias dos bairros do que no centro. Ou seja, a amostragem perdeu aleatoriedade.

3-20% das pessoas contatadas afirmaram que apesar de terem declarados ao entrevistadores sua intenção de voto para o candidato do PMDB Helder, na hora do voto mudaram de opinião e votaram no candidato do PSDB, Jatene.

4- Outros 20% afirmaram que declararam ao entrevistador voto em Jatene, mas nos registros de pesquisas apareciam como intenção de voto em Helder.

 

Minhas observações.

É notório que houve falha tanto na coleta  como na checagem destes dados. Outra questão que parece óbvia é a volatilidade das opiniões dentre os eleitores de baixa renda. A literatura científica registra que em eleições ultra polarizada, como aquela de 2014 no Pará, o eleitor muitas vezes “engana” o entrevistador, devido à forte pressão em curso. Como também, o eleitor indeciso tende a votar naquele candidato que lhe parece mais confiável. Foi o caso dos indecisos no Pará, onde o candidato Jatene entre o primeiro e o segundo turno,  viu sua votação crescer neste segmento.

Dos 10% de eleitores que votaram Branco ou Nulo no primeiro turno, notadamente eleitores de esquerda, no segundo turno este eleitorado decidiu votar, e somente 5% vieram a manter o voto Branco e Nulo, e quem amealhou este 5% foi claramente o candidato Jatene, que cresceu em Belém e Ananindeua, enquanto Helder, manteve seus votos do primeiro turno nestas duas grandes cidades do Pará.

Outra questão que torna as pesquisas imponderáveis neste tipo de eleição ocorreu nas periferias de Belém e em muitos municípios do interior onde Jatene viu sua votação crescer. Esta questão diz respeito ao modelo de campanha aqui realizada. Uma campanha onde existia um governador candidato a reeleição. A patronagem campeou, como fartamente denunciada pela imprensa cuja denúncia chegou até o Ministério Público.

Ou seja, a distribuição do cheque moradia e do programa asfalto na cidade foram fundamentais dentre a maioria do eleitorado, notadamente o mais pobre. Os funcionários do governo  chegavam num bairro, tipo Guamá (Riacho Doce),  distribuíam de forma bem espalhada entre as casas, 50 cheques moradias. Nesta localidade, Cadastravam então mais 500 famílias, e diziam, já distribuímos 50, se Jatene ganhar, entregaremos mais 450 na comunidade.  As filas na COHAB dobravam as esquinas, a imprensa denunciava....mas ficou por isso mesmo.

 Em 24 hs aquela comunidade, que estava dividida entre amarelo e azul, amarelava totalmente. Esta cena se repetiu em todas as comunidades carentes da região metropolitana, e em algumas cidades do sul, oeste e nordeste do Pará. Esta mesma tática foi usada na distribuição do asfalto pré-eleitoral. Neste caso, não tem pesquisa séria que consiga auferir as intenções de votos.

Este mesmo fenômeno foi visível em cidades como Santarém, Marabá e até em Vizeu. O candidato governista, sem viajar pelo interior no segundo turno viu  sua votação ampliar em mais de 2% entre o primeiro e o segundo turno. E os autores das benessess foram deputados eleitos que foram deslocados para estas localidades armados de cheques moradias. Sem falarmos da gorda “boca de urna” governista em véspera das eleições.

Dito isto. Posso informar que meu estilo de administrar as pesquisas eleitorais mudou profundamente. Antes eu descentralizava toda a execução da pesquisa, afinal trabalhava com pessoas que eu concedia amplíssima confiança há muitos anos. Após os graves erros metodológicos detectados, mudei toda a equipe. Chamei novos auxiliares ligados à ciência política e passei a centralizar pessoalmente toda a ação metodológica nas pesquisas que vemos realizando. Notadamente pesquisas informais de checagem de intenções de votos.

Estas são algumas informações que eu devia aos eleitores do meu blog, aos amigos, alunos e colegas da ciência política.

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