A sociedade paraense vem sendo deserdada de estadistas desde o seu nascedouro. Por aqui ainda não habitou um grupo político capaz de projetar a construção da sociedade paraense em escala de 100 anos. Encontramos, sim, alguns governantes com lampejos de estadistas, principalmente quando pensamos em rodovias,  ferrovias, portos, aeroportos, verticalização da produção mineral e agrária.

Estes lampejos aconteceram quando foram construídas algumas obras estruturantes como a alça viária, a luta pela hidrovia Araguaia Tocantins, reconstrução do aeroporto internacional de Belém, a construção do centro de convenções e as implantações das universidades do oeste e do sul do Pará. Devo lembrar, a construção destas universidades, apesar de terem sua implantação federal, foi gestada a partir da UFPA e acampada por toda a classe política estadual.

Por outro lado, os governos atual e passado deixaram de travar uma luta total: pelo fim da lei Kandir, articular a luta inter-regional por um novo pacto federativo e por uma reforma tributária justa para as regiões mais pobres, por um transporte multi-modal para os centros urbanos do estado, por uma política de estado para o turismo ecológico, pelo fortalecimento do pequeno empreendedor em todas as microrregiões do Pará, por uma gestão de qualidade nos serviços públicos, em especial na saúde, educação e segurança.

Governos comprometidos com o desenvolvimento de todo o estado do Pará teriam descentralizado instituições e ações do estado por meso regiões, de acordo com a vocação destas. Voces já imaginaram a mesorregionalização do governo estadual?  Já imaginaram a Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei Orçamentária Anual recebendo contribuições anuais dos atores centrais de cada região? Como: comerciantes, empresários, sindicatos, ONG’s.

Pois é, até hoje o povo do Pará ainda não assistiu a formação de uma coalizão estratégica em favor do Pará. Normalmente partidos e governantes arrefecem  ao baixo orçamento estadual, ou, preferem usar o poder de Estado para fazer negócios. As sucessivas e exageradas isenções fiscais aos detentores dos meios de produção têm como subproduto as negociatas para financiamento eleitoral e para outros destinos poucos republicanos.

Todos os governantes que passaram pelo governo do Pará deixaram suas migalhas de contribuição ao nosso povo. Todos sem exceção entenderam o governo como a arte de construir obras físicas, como pontes, prédios escolares, prédios hospitalares, asfaltar ruas. Estas obras são necessárias, mas não suficientes.

Assistimos em pleno século XXI, os sindicatos denunciando a péssima manutenção dos prédios públicos, a falta de segurança nas escolas, a péssima qualidade da merenda escolar, principalmente nos municípios do interior, ausência de novas tecnologias pedagógicas para este novo mundo da internet, a desumanidade no tratamento das populações nos prontos socorros e postos de saúde, o funcionamento precário das equipes da estratégia saúde da família.

Hoje ainda vivemos uma realidade municipal precária em termos orçamentários, é verdade. Mas também sabemos que fluem hoje  verbas   para saúde e educação para os municípios, inimagináveis até 1990, mas ouso dizer, pelo   menos  50% destas são desviadas de seus objetivos finalísticos. A corrupção graça na aquisição de merenda escolar, na aquisição de medicamentos e outros serviços. A torneira da corrução é gigante na esfera municipal, e não escapa deste mal  nenhum partido ou grupo político. Em síntese, que busquemos quadros republicanos porque coletivos partidários íntegros estamos longe de alcançar.

Vi  nestas últimas décadas passarem governos de todas as matizes pelo palácio estadual, foram governos do PMDB, do PSDB e do PT nos últimos 35 anos, não  vislumbrei nenhum projeto estruturante para o estado ser colocado em prática. Ví todos os governos desaparecerem nos primeiros 24 meses e ressurgirem nos últimos 24 meses apresentando obras com objetivo de impressionar o eleitor visando ganhos eleitorais imediatos. Não identifiquei nenhuma linha estratégica visando dotar o Pará de uma infraestrutura para o comércio, para a indústria, em suas diversas matizes.

Hoje o Pará não dispõe de um transporte público que funcione minimamente. Não dispõe de uma política turística para o estado. Não dispõe de uma política para uma gestão eficaz e eficiente dos serviços e dos órgãos públicos. Serviços de saúde, segurança e assistência social são precaríssimos. Os órgão reguladores e fiscalizadores só servem para gerar mais receitas aos governos, funcionam à base da multa e da repressão.

Neste contexto de ausência de alternativas, o nosso eleitorado vive escolhendo os governantes com base naquele que fez alguma coisa, ou que está fazendo alguma obra considerada importante para uma cidade ou para uma região. Ou seja, por aqui ninguém confia em promessas e com isso acabam por premiar os maus governantes que estão fazendo duas ou três obras consideradas importantes no final do mandato, ninguém vota em propostas ou promessas.

A regra por aqui é: poupar os recursos públicos nos primeiros 24 meses, deixando a sociedade à míngua de tudo e fazer jorrar o dinheiro às vésperas da próxima eleição. Este modelo vem dando certo, pelo menos na sucessão estadual e nas grandes cidades do Pará. Este modelo só falhou durante o governo do PT de 2007-2010, pela enorme inexperiência política da equipe governante.

Para 2018 mais uma vez este modelo de manutenção no poder deve se reapresentar. De um lado o governo comandado pelo PSDB, que deve apresentar um candidato, de outro a oposição, comandada neste momento pelo PMDB. Ainda não se fez vislumbrar qualquer alternativa competitiva capaz de aglutinar amplos setores sociais e partidário capaz de se transformar numa terceira via.

Mas em comum temos a repetição de nomes, elites e partidos que vivem da mesmice na gestão do governo do Pará. Os segmentos de classe média querem distância do compromisso de transformar nosso estado em favor do povo. As redes sociais denunciam que nossa classe média detesta pobre e pobreza e se identifica com grupo e setores que vivem a desgovernar nosso estado.

Portanto, nada de novo parece que florescerá em 2018 em nossa terra.

 

 

 

 

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